Criar ou mudar hábitos definitivamente não é algo fácil.
(por Fernando Colella)
Criar ou mudar
hábitos definitivamente não é algo fácil. Quem já tentou parar de fumar,
iniciar uma dieta ou começar a acordar mais cedo para praticar uma
atividade física compreende bem o que estamos falando. Esse é o tema do
livro “O Poder do Hábito”, best-seller escrito pelo repórter
investigativo do New York Times, Charles Duhigg. Com base na leitura de
centenas de artigos acadêmicos, entrevistas com cientistas e pesquisas
em empresas, Duhigg defende que hábitos podem ser criados e
transformados, desde que seu mecanismo de funcionamento seja
corretamente compreendido.
O mais
importante aqui é compreender que hábitos, bons ou ruins, fazem parte de
um mecanismo natural do cérebro, que procura o tempo todo maneiras de
poupar esforço. Em outras palavras, o que os cientistas dizem é que o
cérebro sempre tentará transformar qualquer rotina em um hábito para que
a mente possa desacelerar com maior frequência.
Isso é
exatamente o que comprovam alguns experimentos feitos no MIT
(Massachusetts Institute of Technology). Basicamente, alguns ratos eram
colocados diante de uma porta fechada. Quando soava um clique, a porta
se abria para que pudessem entrar em um labirinto. Se os ratos seguissem
em frente e depois virassem à esquerda, encontrariam comida, mas se
tentassem outro caminho, não encontrariam nada. A partir do
monitoramento do cérebro desses animais, os cientistas perceberam que,
nos primeiros dias do experimento, a atividade cerebral dos ratos era
muito intensa enquanto ficavam fuçando, cheirando e procurando algo. Nos
dias seguintes o experimento era repetido e, a medida que os ratos
aprendiam onde estava a comida, passavam a errar menos o percurso e sua
atividade cerebral era drasticamente reduzida.
Assim, um
hábito se formou naqueles pequenos animais. A cada dia que a rotina de
fazer o mesmo caminho para encontrar a comida se consolidava, era menor a
atividade cerebral nos bichinhos que, com menos esforço, passavam a
operar no “piloto automático”. E é exatamente isso que ocorre conosco.
Lembra-se quando você aprendeu a andar de bicicleta? No começo havia
muita dificuldade e medo, você precisava do auxílio de rodinhas e da
supervisão de um adulto. Depois você passou a ter prática com aquele
instrumento de duas rodas, ficou mais independente e ousado, e passou a
não ter mais que pensar para pedalar, frear ou controlar a direção. O
hábito consolidou-se de tal forma que, se resolver passar alguns anos
com a bicicleta encostada, saberá exatamente o que fazer quando tentar
novamente, e nunca mais terá a mesma dificuldade das primeiras vezes.
Mas o mais
importante desse e de outros experimentos sobre o tema, é que os
cientistas puderam desvendar como exatamente os hábitos funcionam.
Basicamente, eles são constituídos de três componentes, que formam o
chamado “loop do hábito”. O primeiro deles é a deixa, que é o evento que gera o impulso para o hábito. O segundo é a rotina, ou seja, o conjunto de atividades que permitem que o hábito seja percebido como tal. O terceiro componente é a recompensa,
o incentivo que o cérebro busca e que mantém o hábito. No experimento
do MIT, o clique que soava era a deixa para que os ratos mantivessem a
rotina na busca da recompensa: a comida no final do labirinto.
Há ainda mais um elemento fundamental para manter o “loop do hábito”, que é o anseio.
Há ainda mais um elemento fundamental para manter o “loop do hábito”, que é o anseio.
Trata-se de uma antecipação da recompensa, também deflagrada pela
deixa, que o cérebro promove uma vez desenvolvido o hábito. Um fumante
que vê um maço de cigarros (deixa), por exemplo, passa a viver o anseio
da recompensa, que é a sensação que o cigarro irá lhe proporcionar.
Segundo Duhigg, vários estudos demonstram que apenas uma deixa e uma
recompensa não são suficientes para que um hábito perdure, é necessário
que haja também um irresistível anseio.
E é assim que
novos hábitos são criados: somando uma deixa, uma rotina e uma
recompensa, que mantém um anseio capaz de alimentar loop. O mais
interessante de tudo isso é que, com esse conhecimento, temos uma
fórmula básica para criação de hábitos que pode ser utilizada por
qualquer pessoa. É uma boa razão para nos desafiarmos a desenvolver
aquele hábito que há tempos pensamos, mas sempre deixamos para depois,
ou que iniciamos um dia e acabamos desistindo em função das dificuldades
enfrentadas. Aceita o desafio?
Em primeiro lugar temos que ter clareza da rotina a
ser desenvolvida. No coaching, todo objetivo deve ser bem específico.
Se o seu objetivo é condicionar-se fisicamente, é preciso definir se
pretende fazê-lo através de corridas, praticando algum esporte ou
frequentando uma academia. Outras definições são importantes, como os
dias e horários da semana que pretende dedicar-se a essa atividade, bem
como suas metas e uma forma de mensurá-las. Lembre-se que estamos
falando da criação de um hábito novo, e para isso temos de ter não
apenas uma motivação, mas também uma rotina bem clara a ser incorporada.
Para que essa nova rotina seja ativada, precisamos de uma deixa simples,
algo que possa lembrar-lhe imediatamente daquela rotina a ser
executada. Se o seu objetivo é frequentar uma academia em um horário
específico, você pode definir um lembrete com alarme no celular, deixar a
roupa da academia em um lugar visível para ser lembrado, ou mesmo pedir
para um amigo ligar na hora correta para lhe cobrar. O importante é que
seja uma deixa que não falhe e que funcione bem para você.
Por fim, é necessário que haja uma boa recompensa.
Recompensas abstratas não funcionarão. É preciso que seja uma
gratificação bem definida e irresistível, a ponto de criar um anseio que
o cérebro passe a esperar e nos conduza automaticamente à rotina
esperada. Para algumas pessoas, a sensação de bem-estar proporcionada
pela atividade física é uma boa recompensa para quem deseja incorporar a
rotina de frequentar uma academia, para outras pode ser a socialização,
estar com amigos. Às vezes isso não é suficiente para começar, e
podemos criar uma recompensa mais sedutora para nós, como tomar um
gostoso smoothie depois de cada sessão de exercícios. Mais uma vez, a
recompensa definida deve ser aquela que traga resultados mais efetivos
para você.
Simplesmente
definir uma deixa e recompensa nem sempre garantirá a criação imediata
de um novo hábito. É preciso encontrar deixas e recompensas certas para
desenvolver um anseio forte, e para isso pode ser necessário
experimentar, testar novas alternativas até encontrar a melhor
combinação para o seu hábito. Para desenvolver rotinas de forma
consciente é preciso ainda esforço e repetição, e isso só poderá ser
alcançado com persistência e comprometimento com a meta. Pode não ser
uma tarefa muito fácil, mas agregar em sua vida aqueles hábitos que você
tanto deseja para se tornar uma pessoa mais realizada, certamente fará
valer a pena.
- See more at: http://www.sbcoaching.com.br/blog/colaboradores/fernando-colella/criando-novos-habitos/#sthash.6MlSp70i.dpuf